Homem de Pouca Fé
"Depois de três épocas de grande euforia e decepções q.b., o Benfíca parte com as expectativas em baixa e assim vai chegar ao arranque de Verão, com uma eliminatória europeia de capital importância. Camacho e Tra-pattoni puderam perder com toda a naturalidade nessa fase, mas Fernando Santos dificilmente se reabilitaria de uma entrada em falso. Por isso, esta escolha é tão complexa e suscita reacções ambivalentes: era óbvia a necessidade de o Benfíca voltar a ter um treinador que não careça de tempo para perceber a dimensão da 'casa', mas a necessidade de vencer justificaria a aposta em alguém mais fiável e seguro"
in DICIONÁRIO DO FUTEBOL
RecordDEZ, 27 de Maio de 2006
• A Pior Pré-Temporada da história do Benfíca tem sido absorvida com bonomia e paciência pelos adeptos encarnados, adormecidos por uma opinião publicada bastante cordata e compreensiva. O treinador actual do Benfica, talvez por ser português, talvez por ser uma figura do sistema, talvez por ser bom homem, tem boa imprensa. Não falta quem lhe dê o benefício da dúvida até aos jogos preliminares da Liga dos Campeões e o único ponto de discussão e dúvida foi gerado inadvertidamente pelo próprio, num momento de desnorte no fim do jogo com o AEK, ao admitir que iria empreender mudança do sistema de jogo, renegando com a maior das facilidades a táctica inovadora que tomara contornos de profissão de fé.
Depois de ter começado a desbravar o plantei pelos jogadores que podiam interpretar razoavelmente uma solução táctica da família do 4x4x2, ficando pratica-mente sem extremos, Fernando Santos vê-se na contingência de ter agora de voltar ao mato sem perdigueiro. O Benfica fez planeamento a apostar numa táctica inovadora no contexto do clube, mas inexplicavelmente admite abdicar dela perante sintomas de incompreensão e incapacidade que os jogadores vão demonstrando relativamente às suas ideias.
Reconhecido como fervoroso crente, revela-se afinal um homem de pouca fé nas próprias convicções. Ao fim de três meses de trabalho de preparação e estudo, seria suposto ter uma ideia das capacidades e do espaço de manobra concedido aos jogadores, evidenciar controlo da situação e confiança numa reviravolta.
Depois de testes desastrados no Algarve, entrou num perigoso processo de negação e cometeu o erro de assumir como decisivo o jogo de Atenas, num ambiente psicologicamente delicado por se tratar do seu anterior clube. Depois de um início razoável e de um jogo prometedor frente ao Bordéus, não está absolutamente claro que os problemas de Fernando Santos resultem da má escolha de sistema estratégico.
As deficiências físicas, a falta de ritmo e uma absoluta apatia competitiva foram muito mais flagrantes em todos os jogos subsequentes do que o desenqua-dramento táctico, embora a lentidão dos defesas-centrais desaconselhe um esquema de exposição ao contra-ataque, que resulta de uma tracção dianteira mais pronunciada. Fernando Santos ousou mudar o que estava bem, porque procurava fazer melhor.
Se voltar atrás, provavelmente nunca mais vai ganhar a confiança da equipa e do clube.
João Querido Manha
in DICIONÁRIO DO FUTEBOL
RecordDEZ, 05 de Agosto de 2006
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