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01 outubro 2006

Sem Espaço de Manobra


«HAVIA TANTA EXPECTATIVA e satisfação pela qualificação de seis clubes para as provas europeias e, pela primeira vez, de três para a Liga dos Campeões que poucos cuidaram de enquadrar as razões excepcionais que o permitiram. Sem que tenha havido uma meIhoria competitiva global, repetiu-se uma conjuntura favorável em ciclos de excelência envolvendo á vez os três clubes agora beneficiários, que amontoaram pontos suficientes para viabilizar uma amostragem simpática dos nossos índices de competição.

É significativo que tal aconteça no ano em que se procedeu à redução do número de clubes da I Liga numa decisão sem precedentes - foi a primeira vez que se abateu por opção consciente das estruturas. Muito mais se considerarmos que tal decisão foi tomada contra o parecer dos técnicos e treinadores que, não tendo tido coragem de se opor no momenta e local devidos, aparecem agora de forma avulsa a criticar os dirigentes e analistas que prepararam o terreno e finalmente decidiram.

Porém, a redução do número de clubes decidida pela Liga ainda nao acertou completamente no numero ideal ou mais ajustado à nossa realidade competitiva, que seria de 12 clubes na I Liga e de 20 (em duas zonas) na Liga de Honra, e muito menos na fórmula competitiva, que nunca podia ter baixado o numero de jornadas. De facto, com menos jogos para realizar numa prova tendencialmente menos competitiva, as equipas vêem reduzido o espaço de manobra para eventuais fases de recuperação pontual, até porque perderam adversários mais fracos e com eles um pecúlio de pontos garantidos. Percebe-se a angústia dos treinadores quando se confrontam com quase tantas semanas de inactividade como de competição em certos períodos da época, particularmente quando as equipas estão em má fase e gostariam de entrar imediatamente em acção para tentar ultrapassá-la. Com menos jornadas, a estabilização da classificação e muito maior, bem como a dificuldade em dar passos de recuperação e trepar na tabela.

A reacção dos treinadores a esta armadilha competitiva consiste jogar ainda mais a defesa. 0 golo transformou-se num bem cada vez mais acidental nos relvados Portugueses, mostrando uma tendência irreparável para o campeonato mais estéril e zerado de sempre. Embora contando menos um jogo por jornada, a Liga ja perdeu cerca de 20 golos em relação è mèdia dos anos anteriores, apontando para um total inferior a 500 no final da época, o que seria catastrófico para o negócio.

Enquanto esgotam energias em discussões estéreis e destrutivas como as suspeitas sobre a idoneidade e honestidade dos árbitros, os agentes do jogo, incluindo os meios de comunicação que entendem dever promovê-lo e fugir de se envolver nas investigações em curso a corrupção que o afecta, preferem olvidar essa razão fundamental para a perda de interesse e a transfuga dos espectadores e adeptos: a ausência de espectacularidade. Sem golos, nao há interesse no jogo e o público que resta vai cansar-se de acudir aos estádios, pagando alto, para ver uma espécie de futebol em "playback", em que os artistas apenas fingem que tocam.

Esta idéia de competitividade sugerida pelo nivelamento por baixo pode ser uma ilusão para os treinadores, convencidos de que progrediram muito por lhes ser hoje relativamente mais fácil roubar pontos aos clubes grandes, mas traduz exactamente o oposto.»

João Querido Manha, in Record 10 ( 30 SET 06 )