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05 novembro 2006

"Ossos do Ofício"



NA SEMANA EM QUE CELEBROU festivamente o regresso em pleno de Bruno Moraes, um raro talento atacante com excepcionais condições atléticas, intactas após 18 meses de calvário, o FC Porto perdeu para os próximos tempos o não menos precioso e admirável Anderson, no meio de uma carpia sem precedentes.
Nem quando Fernando Gomes, o maior jogador da história azul e branca, sofreu a grave fractura nas meias-finais da Taça dos Campeões Europeus que o afastou da histórica final de Viena, se ouviu chorar tão estridentemente.
A lesão de Anderson chegou a proporcionar momentos histriónicos verdadeiramente insólitos, com a cumplicidade dos escribas do costume e sem que Pinto da Costa, honra lhe seja feita, tenha soltado um ai, pela experiência de dúzias de operações cirúrgicas ao longo dos seus cem anos de reinado.
Como Marco Aurélio num lance comjoni em 77, como Alberto pisado por Frasco em 80, como Eurico num choque com Nunes em 85, Anderson entra na história do Porto-Benfica pela mais triste das razões.
Mas deixemo-nos de hipocrisias, no futebol todos sabem ao que vão.
Se não fedessem a hipocrisia as vagas de lágrimas e suspiros soltos nos primeiros três dias da semana, teria sido uma grande surpresa o esquecimento a que avozinhos, paizinhos e maninhos votaram o jovem no momento de lhe dedicar o espectacular e muito profissional triunfo de Hamburgo. Ouvidos e relidos os comentários do final da partida de Hamburgo, pela exibição, pelo resultado e pela confirmação da recuperação de Bruno Moraes, tão ou mais importante que o próprio Anderson neste ano pós-McCarthy, o drama de Jurema passou à história.

Rei morto, Rei posto - nada é mais real e cruel no meio futebolístico. Anderson, recordemos, chegou há meia dúzia de meses para suprir o "fracasso" de Diego, que não conseguiu fazer esquecer Deco e foi despedido por alegada incompetência, apenas quatro meses antes de ser considerado o melhor jogador da Liga alemã e regressar por direito próprio à selecção do Brasil.

Todos os factos acima descritos - as lesões, as apreciações apaixonadas, o ocaso dos ídolos, os erros de cálculo - fazem parte do dia-a-dia do futebol e não merecem dos adeptos com um pingo de experiência futebolística mais do que um sorriso de comiseração.
O que se disse e escreveu a propósito do cidadão e profissional Katsouranis, um banalíssimo campeão da Europa, não é mais do que a sublimação semântica da esquizofrenia que afecta uma minoria de sequazes clubistas aos quais tem vindo a ser concedido cada vez mais espaço nos "mass media" com a mesma lógica do telelixo, sob pretexto de que as aberrações atraem audiências.
Felizmente, as pessoas normais e todos os que alguma vez praticaram desporto de competição não pensam assim e sabem que a lesão, muscular ou traumática, constitui um risco muito elevado.

Mais importante é que o próprio Anderson recupere a saúde e a confiança para jogar e que Katsouranis continue a dar o seu contributo com a competência e profissionalismo a que já nos habituara. E que o melhor árbitro português da actualidade, Lucílio Baptista, possa realizar até final da carreira mais exibições seguras e livres como a que rubricou no domingo.
João Querido Manha, in Record 10 ( 04 NOV 06 )